Uma iniciativa liderada por França, Canadá e Reino Unido para reconhecer o Estado palestino na Assembleia Geral da ONU, agendada para 22 de setembro, expõe profundas divisões entre as potências ocidentais e coloca o governo alemão sob intensa pressão diplomática e interna.
Nova Iorque – O East River será palco de um momento decisivo na próxima segunda-feira, 22 de setembro, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas votar uma moção para reconhecer a Palestina como um Estado soberano. A iniciativa, liderada por importantes nações como França, Canadá e Bélgica, e com o provável apoio do Reino Unido, visa aumentar a pressão sobre Israel para encerrar a guerra em Gaza e revitalizar o processo de paz.
Atualmente, quase 150 dos 193 membros da ONU já reconhecem a Palestina. No entanto, a adesão de países ocidentais de peso representaria uma vitória diplomática significativa para a Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas, e um revés para Israel.
Os Estados Unidos e Israel opõem-se firmemente à medida. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a iniciativa como “uma recompensa pelo terror” ao Hamas, grupo responsável pelo ataque de 7 de outubro de 2023, que deu início ao conflito atual.
O Dilema da Alemanha 
Em meio a essa manobra diplomática, a Alemanha encontra-se numa posição particularmente delicada. O chanceler Friedrich Merz (CDU) já confirmou que o seu governo não se juntará à iniciativa, argumentando que “as condições para o reconhecimento de um Estado não estão preenchidas”. Segundo a posição oficial de Berlim, o reconhecimento deve ser o passo final de um processo de paz que culmine numa solução de dois Estados — uma perspetiva que, para muitos críticos, é atualmente irrealista.
A política alemã é guiada por uma responsabilidade histórica para com a segurança de Israel, devido ao Holocausto. O próprio chanceler Merz emocionou-se recentemente ao falar sobre o aumento do antissemitismo, reafirmando o lema “Nunca Mais”. Contudo, Merz faz uma distinção entre a luta contra o antissemitismo e a crítica às políticas do governo israelense, tendo já condenado a catástrofe humanitária em Gaza e suspendido exportações de armas para Israel.
Pressão Interna e Externa Cresce
A posição de Berlim está a ser contestada tanto dentro como fora do país. A chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já sugeriram a possibilidade de sanções ou suspensão de vantagens comerciais com Israel.
Internamente, a pressão também aumenta. O Partido Social-Democrata (SPD), parceiro na coligação governamental, mostra-se aberto a sanções, enquanto o Partido Verde, na oposição, exige uma postura mais firme de Merz. Em contrapartida, figuras da CDU, como Jens Spahn, alertam para o risco de as críticas descambarem para o antissemitismo.
A opinião pública alemã parece estar em desacordo com o seu governo. Uma pesquisa do instituto Forsa, realizada em agosto, revelou que 54% dos alemães são a favor do reconhecimento da Palestina, contra 31% que se opõem.
Com aliados próximos como França e Canadá a mudarem de lado, a Alemanha fica cada vez mais isolada na sua posição, ao lado dos EUA. Para complicar o cenário, os EUA negaram a entrada do presidente Mahmoud Abbas em Nova Iorque, impedindo-o de participar presencialmente no que poderia ser um momento histórico para o seu povo.