Luanda – Uma análise detalhada da Conta Geral do Estado (CGE) de 2024 revela uma alarmante disparidade nas prioridades de despesa do Governo angolano, que gastou aproximadamente 160 mil milhões de kwanzas (cerca de 180 milhões de dólares) em viagens e na aquisição de viaturas, um valor que supera significativamente o investimento em programas sociais cruciais.Os dados, compilados pelo Novo Jornal, mostram que as despesas com viagens e transportes atingiram 134,2 mil milhões de kwanzas, excedendo em 61% o valor que havia sido orçamentado. A esta fatura somam-se ainda 25,5 mil milhões de kwanzas utilizados na compra de 734 novos veículos para a administração pública, reforçando uma frota estatal que já conta com quase 72 mil viaturas.Este volume de gastos contrasta de forma gritante com o investimento no Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP). Apesar de ter um orçamento de 140,8 mil milhões de kwanzas, o programa recebeu apenas 102,9 mil milhões, ficando abaixo do valor planeado e, mais criticamente, abaixo do montante gasto em viagens e carros.A inversão de prioridades torna-se ainda mais evidente quando comparada com outras áreas sociais:Ação Social: O total gasto em viagens e viaturas é quase 14 vezes superior aos 11,47 mil milhões de kwanzas executados pelo Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU).Educação: O montante é mais do que o dobro dos 62,9 mil milhões de kwanzas efetivamente gastos na expansão e modernização do sistema de ensino, que utilizou apenas 30% da verba que lhe foi destinada.Estes números contradizem diretamente a meta declarada pelo Governo de João Lourenço de reduzir a pobreza extrema no país. Enquanto o Executivo gasta excessivamente em despesas administrativas, mais de 11,6 milhões de angolanos vivem em situação de pobreza extrema, um número que, segundo o World Poverty Clock, pode ultrapassar os 12 milhões até 2027. A análise da CGE de 2024 levanta, assim, sérias questões sobre o compromisso real do Governo com o bem-estar da sua população.Fonte : Novo Jornal
